A Bolada das Bets e a desordem praiana

    O título desse texto tem como mote a propaganda de uma casa de apostas que vem sendo veiculada há algum tempo. O anúncio passa em quase todos os canais, em quase todas as transmissões de jogos de futebol.

    O filme mostra um jogo de “altinha” em que um bando de marmanjos e marmanjas acerta uma bolada na mercadoria de um vendedor ambulante e a faz voar pelos ares, na sequência a bola derruba uma barraca de praia, joga o sanduíche de um sujeito na areia e acerta a barriga de um outro banhista que estava deitado tomando sol.

    Por fim, a bola estaciona aos pés de uma bela jovem que, depois de fazer várias embaixadinhas e outros malabarismos, devolve a bola para os marmanjos.

    Essa cena de que o anúncio se vale para propagandear a casa de apostas (tirando a parte em que a moça ensina aos caras como se domina uma bola) repete-se a todo instante pelas praias do Rio. E não é nada engraçada na vida real. Pergunte à maioria dos frequentadores da praia o que eles acham dessa prática que desrespeita o espaço público da praia, distribuindo boladas, jogando areia e tolhendo a paz alheia. A opinião da maioria é a mesma: trata-se de um estorvo.

    Recentemente, no dia 19 de junho, feriado de Corpus Christi, estive na praia do Leblon. Cheguei por volta das 14hs e a praia estava cheia, mas não lotada. Haveria espaço pra todo mundo se alojar com conforto. Entretanto, toda a faixa na beira do mar estava ocupada pela tal da altinha. Toda mesmo. Havia dezenas de rodas do jogo. Assim, na beira da água não havia crianças (esse costumava ser um espaço delas); tampouco era possível caminhar à beira mar.  Na hora de mergulhar, era preciso se desviar dos “atletas” que se lançavam a toda velocidade de encontro a bola. Bem ruim.

    Como o espaço da faixa à beira mar estava tomado, novas rodas se formaram mais pra cima. Isso mesmo, no meio da praia, em cima das pessoas. Mais uma bola sem direção voou, entrou na Barraca do Beto e acertou em cheio um dos isopores dele. Os praticantes riram, acharam graça.

    Agora, um detalhe relevante: é proibido praticar altinha naquele horário! Mas, não há fiscalização. Já houve vários incidentes. Já houve brigas. Talvez, se acontecer um acidente sério, com um bebê sendo ferido por uma bolada, a prefeitura faça alguma coisa.

    Havia, além da praga da altinha, outras situações que revelam a total ausência de ordenamento, ambulantes circulavam com latas abastecidas com carvão em brasa. Também panelas com água quente. Sem falar nas caixas de som que impingem o gosto musical de cada um à coletividade.

    Reparei que durante o tempo em que estive na praia, bem como no caminho de ida e volta, não vi em duas horas e meia, nenhum guarda municipal.

    O Rio sempre foi um lugar governado pela informalidade, mas agora são a desordem e o desrespeito às regras básicas de convivência que prevalecem. Informalidade é uma coisa, desordem é outra.

    Em suma, se você for à praia no Rio atualmente, terá uma chance enorme de receber uma bolada e nem será preciso apostar nas Bets.