Crônica 

Encontro ao anoitecer no ano de 1981

Naquele fim de tarde eu estava surfando sozinho próximo à Laje que ficava a uns 600 metros da casa do meu avô. Estavam rolando altas ondinhas de 1 metrinho, quebrando bem pra fora da praia, num banco de areia não muito raso. Tinha chovido um pouco e parado; o vento também tinha parado. 

Estava um pouco frio e o camarada que tinha caído comigo saiu fora. Estava cheio de peixes e apareceram uns dourados pra caçar os menores, o que não é comum, pois eles não costumam se aproximar da praia . A água estava viva e agitada com os cardumes e os dourados disparando pra cima deles. Desci uma direita mais e fui até a beira. Já estava meio escuro e voltei remando devagar pro pico, a fim de pegar a saideira. De repente, me toquei que os peixes todos tinham sumido e foi aí que eu vi a criatura majestosa a uns dez metros de mim. Graças a Deus a água estava bem limpa. Era uma Tintureira de uns três metros, as listras bem visíveis. Ela me ignorou, estava certamente interessada em achar alguma tartaruga das que ainda habitavam a área naquela época. Dei meia volta e fui remando paralelamente à praia, bem rápido e com cuidado pra não fazer barulho. Não queria dar as costas pra ela. Quando me afastei uns vinte metros, sentei na prancha e ela estava a frente uns quinze metros de mim. Tinha me ultrapassado e eu nem tinha visto. Ali a água era mais funda. Virei o bico da prancha pra praia e remei com todas as forças numa onda que desci deitado até a areia. Na praia, fiquei sentado um tempo, até escurecer totalmente e a adrenalina abaixar um pouco antes de ir pra casa.